APPLE VISION vs cibercultura

HELOISA MENDES
5 min readFeb 24, 2024

Estava assistindo hip hop uncovered no star+ e comecei a me questionar sobre coisas

Vocês já perceberam como foi a relação com a tecnologia na nossa infância? Como nos eram apresentadas as propagandas que moldaram a nossa geração; Como fomos introduzidos em 2004–07, aos jogos do McDonalds, da barbie e até a contracultura da cena dos jogos de rpg em sites como ojogos, clickjogos, flix e tantos outros?

Precisamos!!! falar do papel das lan houses e de todos os movimentos que aconteciam bem enquanto crescíamos, para que hoje fosse possível introduzir uma nova maneira de contar a história do nosso tempo.

Mas vamos limitar o assunto que já é extenso?

Por que a apple vision é importante para nosso cenário cibercultural :)

unicamente pelo meu ponto de vista.

O ano era 2009 e minha mãe contava as moedinhas para passar os finais de semana comigo na lan house do bairro, meia hora era 25 cents e 1 hora era 50 cents. Lembro que ela ficava o tempo todo ouvindo guns and roses com o fone de ouvido e as vezes até começava a cantar alto por estar tão imersa, eu morria de vergonha mas a gente sempre dava muita risada no caminho para casa. Eu por outro lado, transitava curiosa pelas novas redes sociais, baixava 4 bilhões de musicas pelo Ares e me esquivava das pegadinhas da exorcista, que ja tinha me rendido muitos sustos até então.

Nesse momento, o cenário da internet como conhecemos, começava a desenhar os primeiros traços da atual geração z brasileira.

Foi nessa troca do joguinho de dirigir da polly, que eu conheci o mundo dos MMORPG, quem lembra?! rsssss

Nesse meu caso, switchin mmo e maid marian no honradissimo ojogos.com.

Eu me divertia, de verdade! Lógico que não posso deixar de mencionar a quantidade de gente esquisita e como eu sempre me mantive atenta, mas em sua maioria eram apenas crianças explorando um universo novo.

Tenho memórias bem específicas de um labirinto verde, uma pista de dança e que existia um bug no servidor, com ele eu conseguia colocar minha avatar em alguns lugares que os outros jogadores não me viam, mesmo eu estando lá, tipo o observado observando.

Também lembro como eram criadas micro comunidades de rápidas amizades, isso se dava por que o jogo era tão bomba que não existia a possibilidade de ter o login pessoal com nosso banco de dados para alimentar as nossas próprias comunidades. Então as interações eram majoritariamente de um único dia, já que tudo se perdia no dia seguinte.

A não ser que você voltasse sempre com o mesmo nick _Guest e frequentasse o mesmo servidor, no mesmo horário.

E foi oque aconteceu comigo e com uma querida que também se chamava Heloisa.

https://www.youtube.com/watch?v=eVTXPUF4Oz4&list=PLlqZM4covn1GeiFmvbi8YppviPVUH2Q_9 essa playlist juro, fui até pelo youtube pra ter a viagem completa.

O nome dela era Heloisa Cortês, lembro até o sobrenome. Ela me pediu para adicionar no orkut e todos os dias ficávamos conversando, até que ela pede meu email para enviar um convite de outro jogo, que segundo ela: era muito mais legal que o switchin (como se fosse minimamente difícil).

Aqui eu acabei dando meu primeiro ghosting da vida, mas foi pq não tínhamos mais $$ para usar a lan house e até minha mãe conseguir colocar internet em casa, fiquei um bom tempo sem.

Meses depois, já em casa com o pc da positivo — Ele tinha uma luz azul no botão de ligar que iluminava o quarto inteiro e parecia que iria bater voo a qualquer momento — Que eu mergulhei de fato no metaverso.

Estranho dar um nome para algo que na época nem existia.

Mesmo eu demorando para aparecer, quando voltei contando tudo o que aconteceu, ela já estava mais animada ainda para me apresentar o jogo. O IMVU, como dizia o e-mail era uma comunidade 3d com um design e imersão avançadissimos para época, competindo apenas com o second life que em minha opinião atingia um nível de qualidade nos avatares que era de outro mundo.

Atualmente o IMVU é o maior mercado 3d do mundo, com a própria comunidade alimentando o mercado criativo e desenvolvendo novas formas e leituras para o jogo.

Mas naquela época eu o enxergava apenas como a nova maneira de uma garota de 11 anos passar o seu tempo.

É um pouco difícil explicar a mecânica de imersão do jogo por que diferentes pessoas acessam a experiência de uma forma, mas no meu caso, eu consigo ver claramente o momento em que comecei a criar o storytelling da minha avatar e ver como os desdobramentos da história dela refletiram na minha experiência e crescimento como heloisa mendes, pessoa.

Não quero que soe como se houvesse duas pessoas diferentes, duas vidas, real e virtual, não!

Em contexto de ciberespaço isso não se separa, é tudo uma coisa só, sentida por uma única pessoa num novo cenário cultural, mas mesmo assim, não deixavam de ser dois conceitos de realidade, coexistindo no mesmo espaço-tempo.

e a partir dessa percepção eu desenvolvi um conforto enorme na experiência que o vision pro entregou para o mercado.

Pode ser um papo para branco em questão de dinheiro, por que não está nem próximo de se tornar acessível e muito longe da minha atual realidade, mas digo no aspecto de não ser assustador ou confuso, sempre esteve ali… coexistindo, mas de uma forma menos tangível que agora.

Acalma uma parte ansiosa da minha criança interior que antes mesmo de se dar o nome de metaverso, eu ja desejava muito que esse momento fosse palpável, físico.

No final, poderia criar um conteúdo regular para contar como os desdobramentos e interseções culturais que essa minha aventura de quase 15 anos me proporcionou, mas por enquanto, me coloco a presenciar como a cibercultura está se manifestando em uma nova ramificação, entrando em um contexto onde a forma que interagimos progressivamente com espaços virtuais e consumimos suas propagandas muda (de cenários old school para um cenário mainstream) e com isso o mundo inteiro se transforma também.

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